E tive necessidade. Tive necessidade de calma, de inspiração. Corri à costa, corri a ver o mar. Tive também saudade e escolhi aquela praia quase deserta que outrora patrocinava os meus verões. Havia nuvens, havia nevoeiro e uma brisa que desassossegava mas, hum, aquele imenso azul de força e aquele aroma de sal despertavam em mim o desejo de o habitar, para sempre longe do mundo.

Cheguei e duvidei. Não era de todo aquele local que eu ansiava revisitar. O mar revoltava-se agora sem piedade na areia, os rochedos emergiam raros num fôlego do mar, não sobravam nem dez metros dos tantos em que vaguei vezes sem conta, o vento levou as dunas desamparadas... Restavam, largadas ao acaso, as redes rotas de um pescador e todas as imagens antigas que já não reconheci ali. Desci o olhar, quase incrédula. Que fizemos nós ao nosso mundo, à nossa casa?

Lacrimejavam agora umas doces gotas de chuva, voltei costas, mortificada.

Basta


Cansei. Cansei de todo este sufoco que teima em perseguir-me. Não sou mais que o mais comum dos mortais. Quero respirar, quero poder inspirar profundamente, num silêncio rejuvenescedor e numa calma divina e expirar com a convicção de quem liberta de si o mais ávido dos fardos.
Estou tão perto e tão longe daquela maçã do alto, daquela tão igual às outras mas tão especial para mim. Quero chegar-lhe. Estico a mão aberta, cansada de dar, pobre de gratidão, desejosa de a alcançar, insisto... Inacessível, apetecível. Vergam-me os ombros, tapam-me os olhos, esbofeteiam-me, subjugam-me... mas não me derrotam. A maçã será minha.
Já tenho força, já tenho ar.