O tempo leva expectativas, destrói ilusões. O tempo traz esperança e constrói sonhos. Sempre assim. Mas por vezes resignamo-nos tanto aos problemas que se nos defrontam que nem nos apercebemos que a vida não tem retorno e cada segundo que passa, é um segundo que perdemos sem sorrir. Sou a ingénua menina que depois de tudo o que veio e de tudo o que virá continuará sempre a julgar possível habitar um oásis terreno onde as mais duras realidades chegam tal qual a subtileza de um beijo e as relações humanas se edificam e subsistem sem qualquer laivo de ódio ou falta de afecto.
Temo desmesuradamente o desconhecido, tremo sequer quando penso em enfrentar o que não conheco mas persigo-o, dou um passo em frente mesmo que as pernas tremam, que o coração bata mais depressa e o suor invada o rosto receoso. Brinco com este medo: fecho os olhos com força, trinco o lábio e cravo as unhas com o ânimo de que mais uma vez irei ser capaz. Entrego todas as partes de mim a tudo o que leva meu nome, sou plena até no mais ténue olhar e no mais fugaz toque. Quando perco, perco tudo. Resta renascer. Que arrisco demais? Sim. Que me dou demais? Sem dúvida.
Mas que era a vida se não fosse um jogo?
Hoje, mais uma vez, vou parar e olhar para dentro de mim e contemplar-me naquele gesto que para outros é presunção e para mim não passa disso mesmo, olhar para dentro. E ver e rever os sorrisos que já soltei e as lágrimas que enxuguei no caminho até aqui. E continuar a caminhar.