Olha-me nos olhos



Prendes o olhar no horizonte enquanto falas comigo, não desisto, continuo a procurar-te, a fixar o teu olhar. Insistes em me evitar, porque? Porque temes? Temos uma conversa agradável e nova. Abdicámos dos jogos de palavras, dos vocábulos ambíguos e das posturas encenadas de outrora. Já passou algum tempo desde esse árido tempo e silenciosamente estranhamo-nos. Estás agora tu, sentado, direito e firme como se te concentrasses a varrer o horizonte com os teus olhos semi-cerrados do sol enquanto os teus braços fortes descansam no colo. Eu estou a teu lado, confortavelmente sentada sobre a minha perna, as minhas mãos sossegam e o meu tronco acompanha o olhar e decai ligeiramente na tua direcção, num esforço suplicativo para te compreender. Dás-me tanto tempo de espera às tuas palavras que me dás tempo para te dissecar. Estás confuso com a nossa frontalidade, sinto-o. Desvias os teus olhos dos meus para evitares constatá-lo e para que eu não perceba que te sentes inseguro a revelar-te realmente a mim, diferente de como eras antes... Sorrio, amolecida pelo meu pensamento, e ainda fixa em ti. Olhas-me momentaneamente para acrescentares algo, mas arrependes-te e sorris quando te pergunto. Baixas agora o olhar, ambos sabemos o que queres dizer-me. Consenti com o olhar, evitando o teu pesar.

Deixa-me sonhar

Deixa, deixa-me viver assim, por favor. Deixa-me achar que nada é impossivel, deixa-me acreditar que a vida não passa em vão e as pessoas não traem, que a felicidade não é ilusão e a desilusão não é real. Não digas que não sou capaz, não digas que não aguento, não me peças nunca para não sonhar nem ouses sequer algum dia me travar. Por favor. Deixa-me chorar quando sentir o sonho desvanecer, mas não digas que cessou...