(IR) racional


Dispo-me de tudo. Esqueço o meu nome e o tudo mais que me persegue. Em mim, gravo agora apenas o que merece ser louvado. Fujo do mundo com o fôlego dos deuses e não ouso olhar para trás. Tristes noites vãs que passei a ouvir-me falar. Porquê? Deixo os instintos beberem do meu corpo e a razão apodrecer numa alma que  foge, etérea. Corro sem rumo nem direcção, piso os ramos secos da vida e galgo os fossos do passado numa busca desenfreada do que ainda não achei. Para quê?  Não sei sequer o que procuro, não reconheço já a noção de procurar. Dispo-me de mim e de ti e de todos e de tudo. e corro. e fujo.


mais um dia ...


Queria escrever sentimentos.
Escrever os que me invadem e traduzir em palavras as emoções que me contorcem de prazer, e de saudade. Queria eternizar numa frase as recordações de horas que agora já só a segundos me sabem. Consumo, assim, cada pequeno detalhe que irrompe de mim com um fulgor descontrolado do que já não volta, com um louco desejo adiado de mais. e mais. Prendo-me a cada cheiro, a cada som e a cada gesto que me lembre esse momento onde toquei o céu. Queria poder escrever sentimentos. Escrevê-los sem medo de os perder ou desgastar.Escrevê-los a prata sobre uma folha de papel vermelha que o tempo não leve nem mate. O prazer de reviver no quando e onde me apeteça multiplicando a cada vez a luxúria de um bem que não passa, mas não retorna.